Marcos Tavares em entrevista ao Jornal de Estarreja

quinta, 10 de fevereiro

Marcos Tavares, presidente da ACE

Reproduzimos aqui na íntegra a entrevista dada por Marcos Tavares, Presidente da Associação de Carnaval de Estarreja, ao Jornal de Estarreja desta semana.

Associação reduz no apoio aos grupos e poupa na rainha de Carnaval

A Associação de Carnaval de Estarreja está em contenção de despesas e como tal decidiu diminuir o apoio por desfilante, bem como reduzir no custo da contratação de Reis de Carnaval. Em entrevista ao Jornal de Estarreja, Marcos Tavares explica as medidas tomadas e anuncia as actividades que serão levadas a cabo até ao final do Entrudo estarrejense.

Jornal de Estarreja (JE): Estamos a poucas semanas do desfile do Carnaval de Estarreja. Já começou a azáfama da recta final?
Marcos Tavares (MT): A azáfama começou no dia em que tomámos posse e isso já foi o ano passado. Tivemos mais tempo para realizar tudo o que é necessário para fazer o carnaval sair para a rua. Como é lógico, há sempre coisas que aparecem à última hora.

JE: Foi fácil arranjar pessoas dispostas a colaborar no desafio de organizar o Carnaval de Estarreja?
MT: É sempre complicado. Em todos os serviços comunitários e voluntários, que não são remunerados, é sempre complicado arranjar uma equipa. Mas conseguiu-se e estamos a trabalhar.

JE: Já são públicas as medidas tomadas, nomeadamente na redução de apoio aos grupos. Porque decidiram avançar com a redução do subsídio?
MT: A crise e a redução não é só no Carnaval de Estarreja. Tenho quase a certeza de que nos outros carnavais, aqui à volta, a redução também se verifica. Dada a crise, decidimos reduzir o subsídio aos grupos, assim como reduzir a despesa global do Carnaval.

JE: De que valores estamos a falar?
MT: A Direcção assume à cabeça, por elemento desfilante, 70 Euros. São menos 25 Euros que os previstos, mas com uma variante de 20 por cento sobre a bilheteira. Provavelmente, se tivermos um dia de bom tempo, com uma boa receita, chegamos aos 95 euros por pessoa.

JE: Isso implica que, se a bilheteira correr bem, os grupos ganham mais?
MT: Se a bilheteira correr bem, os grupos ganham mais. Se a bilheteira correr mal, os grupos ganham menos.

JE: Os 70 euros são sempre garantidos?
MT: Sim.

JE: Que valores têm em mente para bilheteira?
MT: Indo pelo orçamento de 2010, esperamos 80 mil euros. Se a receita ficar abaixo dos 80 mil euros, e independentemente do valor, pagamos sempre 20 por cento da receita de bilheteira, que se destina directamente aos grupos.

JE: Conseguiram fazer seguro de intempéries para 2011?
MT: Ainda estamos a tratar disso, mas está muito difícil. As seguradoras nem sequer respondem ao pedido de cotação.

JE: Isso poderá querer dizer que chovendo, num dos dias, os grupos podem vir a receber menos dinheiro?
MT: Vão apenas receber sobre os dias em que houver desfiles. Se houver apenas um dia de desfile, os 20 por cento apenas dizem respeito a esse valor.

JE: Os grupos aceitaram de bom grado a redução do apoio?
MT: De certeza que não. Embora a medida tenha sido aprovada em Assembleia Geral, compreendemos que não é fácil mexer na carteira dos grupos, nem de ninguém. Compreendemos que os grupos têm orçamentos reduzidos em termos de subsídio e que gastam todos eles muito mais do que o que recebem da Associação.

JE: Para colmatar a redução de apoio, bem como para angariar novos fundos, a Direcção da Associação tem desenvolvido outras actividades…
MT: Tivemos a abertura oficial do Carnaval, em Novembro, realizámos um jantar com os grupos, em Janeiro, em que conseguimos dar aos grupos um apoio de cinco euros por cada elemento que trouxeram para o jantar.

JE: A Associação de Carnaval de Estarreja tem dirigido muitas actividades aos grupos, para angariação de fundos. Os foliões têm correspondido a estas iniciativas?
MT: Na abertura do carnaval foi notório o número de pessoas que passaram pelo hangar dos Morenos. O jantar também teve um número razoável de presenças, tendo em conta o número de festas que existem por todos os grupos. Cada festa a que uma pessoa vai faz sair dinheiro do bolso e hoje sair à noite, com jantar, quase não se gasta menos de 50 Euros. Cinquenta euros, vezes um mês que ainda falta para o Carnaval, estamos a falar sempre de muito dinheiro.

JE: Marina Mota é a cabeça de cartaz do Carnaval de Estarreja. É uma figura conhecida, mas não é um nome do topo artístico nacional. Porque optaram por figura de segundo plano?
MT: A Marina Mota faz todo o sentido no Carnaval, porque é uma pessoa bem-disposta, alegre, que consigo ver a desempenhar o papel para o qual está convidada. Depois teve a ver com o factor monetário. A redução no custo do Rei foi de 50 por cento, quando comparado com os valores de 2010. É muito dinheiro.

JE: A escolha desta rainha e de apenas uma figura foi um factor meramente económico?
MT: Tivemos que procurar poupar dinheiro. Foi uma promessa nossa, que iriamos reduzir a despesa em todos os itens. Não fazia sentido estar a cortar subsídio a grupos e estar a gastar 25 mil Euros por um Rei.

JE: Não poderá haver o reverso da medalha, de menos público no Carnaval, por a figura ter menos destaque?
MT: Marina Mota é uma figura conhecida e muitas pessoas a conhecem. Apesar de nesta altura estar ausente das televisões, continua muito activa no teatro. Creio que não será por aí que o Carnaval tenha menos público. A ausência dela até poderá criar curiosidade nas pessoas para virem ver como a Marina Mota está, se está mais magra, mais gorda, etc.

JE: Quem vai acompanhar Marina Mota?
MT: O Rei vai ser de Estarreja, sempre esteve ligado ao Carnaval e à animação do mesmo. Não quero adiantar o nome, mas garanto que é uma pessoa conhecida e ligada ao Entrudo.

JE: Um dos problemas do carnaval costuma ser a questão logística, nomeadamente na realização dos carros. Há anos que se fala na necessidade de criar um espaço permanente. Ovar continua com a ideia de criar a aldeia do carnaval. Estarreja também necessita de algo do mesmo género?
MT: Estarreja precisa sem dúvida nenhuma. Os grupos têm crescido de uma forma que precisam de apoio logístico para crescerem e poderem manter-se. É necessário um espaço com alguma dimensão, que dê para albergar os grupos todos. Mas isso custa dinheiro.

JE: E por custar dinheiro, acreditas que há receptividade da Câmara para apoiar um projecto dessa natureza?
MT: Nunca foi um assunto ponderado. Mas está na agenda para ser discutido.

JE: As noites continuam a ser uma aposta forte da Associação de Carnaval. Com o que podemos contar para este ano?
MT: A tenda vai ser mesmo no centro da Praça. Temos um cartaz que também foi alvo das restrições orçamentais, mas não descuidámos a qualidade. Houve a parceria com a SFM, que nos arranjou um bom cartaz, mas por pouco dinheiro.

JE: Está preparado para as reclamações do barulho dos habitantes do centro de Estarreja?
MT: Os moradores estão habituados a colaborar com o Carnaval. As pessoas mais próximas da tenda compreendem que é uma actividade importante para o município. Creio que vão ser compreensivas e não vão reclamar muito.

JE: Já recentemente a Associação do Carnaval foi responsabilizada por festas de privados, apesar de não ter nada a ver com elas…
MT: Sim. Houve um bar que fez uma festa ligada ao Carnaval, mas que não tinha relação com a Associação. Fizemos um comunicado para que as pessoas tenham noção de que apenas vamos trabalhar seis noites e não vamos fazer nada antes.

JE: A Associação recupera este ano o Baile dos Bombeiros, no domingo à noite, com o grupo Escala 5. Porque decidiram reviver a tradição?
MT: Faz todo o sentido. Vamos tentar tirar as pessoas de casa nesse dia, pessoas numa faixa etária mais alta, que por norma não vêm nas outras noites. Não o fazemos no quartel dos Bombeiros porque não dá. Com o baile, vamos tentar ser solidários com os Bombeiros de Estarreja, com um valor simbólico, pois estes também ajudam no Carnaval. Marina Mota vai estar presente nesse dia para dar um pé de dança ao som do Escala 5, também famoso pelas suas actuações nos Bailes de Carnaval dos Bombeiros.

Andreia Tavares

carnaval@acestarreja.pt